A história de superação de um jovem que começou desenhando capas de CDs e virou o principal ‘cineasta’ do funk de São Paulo, dando ao gênero uma outra dimensão

Nascido em Santos, litoral de São Paulo, Konrad Cunha Dantas desde garoto se interessava por duas coisas: arte e funk.

De forma despretensiosa, para ajudar alguns amigos MCs, começou a fazer a arte das capas de seus CDs. Em pouco tempo, os traços daquele menino de 13 anos viraram uma referência para os artistas que queriam lançar seus álbuns independentes.

Konrad decidiu estudar webdesign e logo foi contratado para tomar conta do site de uma universidade da região. Mas seu sonho era um dia fazer um filme parecido com “Transformers”.

O sonho de estudar 3D parecia estar longe, o curso era muito caro. Filho de uma professora da rede pública e de um profissional autônomo, Konrad muitas vezes tinha que ajudar em casa, não sobrando dinheiro para os estudos.

Após a inesperada morte de sua mãe, Konrad descobriu que ela havia deixado um seguro de vida para ele com um valor não muito alto, mas que possibilitaria fazer o tão desejado curso de 3D.

Decidido a superar sua tragédia pessoal e realizar seu sonho, ele se jogou de cabeça nos estudos e ainda conseguiu conciliar com o curso de composição de efeitos visuais.

Não demorou muito para arranjar emprego em produtoras de finalização e seu trabalho de conclusão de curso, um curta onde juntou técnicas de tracking, composição e 3D intitulado “Sentimento Urbano”, chamou a atenção de alguns professores na faculdade. As primeiras portas de sua nova vocação se abriram.

Além dos estudos, Konrad era também cantor de rap no grupo Groove Play. Com suas últimas economias, comprou uma câmera Cannon 5D para gravar um clipe e começar a pensar em futuros trabalhos. Mal sabia ele que esse fato iria mudar radicalmente sua vida e todo o mercado do funk em São Paulo.

Filmou alguns clipes, mas as dificuldades com a câmera eram imensas. Ele nunca havia tido uma câmera fotográfica na vida. Encontrou em workshops do diretor de fotografia Alziro Barbosa a resposta para boa parte de seus problemas. Começou a tomar gosto pela ideia de dirigir e abandonar a produtora que trabalhava.

Um dia, apenas como teste, fez um teaser do seu amigo, MC Gringo, gravado em um estúdio. MC Primo, um dos mais famosos funkeiros da Baixada Santista e assassinado no último mês de abril, viu a produção e encomendou um clipe.

O videoclipe de MC Primo “Espada do Dragão” revolucionou o mundo do funk, que até então contava apenas com montagens de slides no YouTube ou com produções nada profissionais.

O clipe foi selecionado pelo Festival Curta Santos com um outro vídeo de rap que Konrad também havia produzido. Foi um fato inédito, pois até então só clipes de rock eram selecionados. Kondzilla, como passou a ser reconhecido por todos, começou uma carreira de sucesso.

Logo foi chamado pelo empresário do ainda desconhecido MC Boy do Charmes para solucionar um problema. Uma de suas musicas, “Megane”, estava começando a ser conhecida do público, mas como outros MCs já famosos estavam cantando também, havia o risco de a música estourar com algum outro artista e Boy do Charmes continuar no ostracismo.

Boy do Charmes tinha de aparecer cantando sua própria composição. No dia de filmar o clipe, Konrad chegou em Cidade Tiradentes, berço do funk na cidade de São Paulo, a pouca estrutura se somou ainda à falta de sorte. “Quando chegamos na rua onde iríamos gravar havia uma feira livre, e tivemos que esperar até quase 3 horas da tarde para começa a gravar, sabendo que antes da 19 horas o sol iria baixar e não teríamos mais luz”, lembra ele.

O videoclipe foi filmado em menos de três horas e a direção, filmagem, montagem e finalização foram feitas por Konrad apenas com a sua 5D. O clipe de Megane, que teve um parto difícil, foi um sucesso estrondoso na internet, e em menos de 30 dias chegou a marca de um milhão de exibições no YouTube. A música se tornou febre entre a juventude da periferia de São Paulo.

“Megane” marcou definitivamente a passagem do “funk proibidão”, com narrativas de crimes e sobre facções criminosas, para o “funk de ostentação”, onde carrões, roupas de grife e bebidas caras passaram a fazer partes das letras. Deve-se a Kondzilla o feito de traduzir tais rimas dos MCs para o vídeo, criando a estética cinematográfica que faltava para o “funk ostentação”.

O clipe seguinte, “Tá Patrão”, conseguiu superar essa marca chegando a um milhão de exibições em apenas 15 dias.

A partir dai, tornou-se obrigatório para os funkeiros lançarem suas músicas com um videoclipe. O número de visualizações que cada um consegue no YouTube muitas vezes dita o preço do cachê dos funkeiros.

Um exemplo disso é o MC Rodolfinho, um dos mais bem pagos MCs hoje em dia, que alcançou o sucesso após seu clipe “Como é bom ser vida loca”, também dirigido por Konrad, alcançar a incrível marca de 11 milhões de visualizações.

Apesar do sucesso, até conseguir se consolidar como diretor de clipes e fazer com que os MCs de funk pagassem um valor adequado por seu trabalho, Konrad teve que literalmente se virar em dois, chegando a gravar dois clipes em um único dia.

Embora outros diretores tenham também se aventurado no funk, Kondzilla tornou se uma grife entre os funkeiros que disputam a tapa as poucas datas disponíveis de sua agenda.

MCs, no meio das filmagens, chegam a chorar dizendo que ter um clipe filmado por Konrad é a realização de um sonho. Em uma ocasião, uma mãe quis presentear com um clipe o filho que completava 18 anos e era MC de funk.

Além de ser criador da estética do “funk de ostentação”, inspirada nos clipes de rap americano, mas que foca principalmente nas marcas dos carros, roupas e bebidas dos itens exibidos nos clipes, Konrad também criou uma forma de produção de videoclipes a baixo custo.

Konrad cobra um valor fixo por uma diária de filmagem, que costuma ser só uma em todos os vídeos. Isso inclui a edição e finalização dos clipes. Uma conversa prévia com o contratante ajuda a definir um roteiro e quais itens serão disponibilizados pelos MCs no dia da filmagem.

É fácil ver no Facebook de vários funkeiros pedidos para que meninas bonitas façam participação gratuita nos vídeos ou mesmo de empréstimo de carrões de luxo para os amigos mais ricos. Tudo para o MC aparecer no clipe pilotando um Camaro ou mesmo uma 1100.

“Sabe aquela sua amiga gostosa que você tem certeza que vai? No dia ela vai acordar de ressaca e desencanar da filmagem! Sabe aquele seu amigo que ia emprestar o carro? No dia ele desaparece e aí você fica a pé”, costuma alertar Konrad na reunião prévia da gravação.

Os eventuais furos na produção o obrigam a reescrever o roteiro na hora. “Uma vez disse para um MC subir na moto e ligar. Na hora, ee disse que não sabia andar de moto, sendo que no roteiro aprovado dias antes ficou decidido que ele ia filmar pelo menos uma hora em cima da moto. Tivemos que derrubar quase metade do clipe”, diz Kondzilla, com um ar de quem, além de dirigir, tem também que gerenciar as muitas crises que aparecem no dia-a-dia.

Konrad é o retrato de um Brasil que não depende de dinheiro público para produzir cultura ou mesmo se prende a um certo perfeccionismo de nossa classe média, cheia de preocupações e mimimis, que imobilizam boa parte dos que sonham e não conseguem passar disso.

Os milhões de visualizações o tornaram hoje o principal diretor do gênero no Brasil, dirigindo mais de 8 clipes por mês, e as recentes solicitações de funkeiros de outros Estados fazem Kondzilla sonhar alto. “Não é só o funk que fala de mulher, festas e carrões. Por que não um clipe estilo Kondzilla no sertanejo?”

Com produções baratas e de resultados rápidos, Kondzilla criou um modelo prático de “um tamborzão na cabeça e uma câmera na mão”, que permitiu a muitos jovens funkeiros fazer o tão sonhado videoclipe, antes considerado impossível pelos custos. E transformou os anseios e alegrias consumistas da nova classe média contidas nas letras de funk em imagens e sons para o canal de vídeo mais democrático do mundo, o YouTube.

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10 COMENTÁRIOS

  1. Olá sou o MC d´Silva e preciso de uma ajuda para fazer o meu clipe eu tenho 5 músicas chamada de cheio de moral, ostentação, vem pro papai, menina piradinha e loucura de ostentação o meu sucesso é ostentação e preciso de vocês para mim ajudar nessa carreira que é o meu sonho ser um MC procurei na minha cidade não tem nenhum DJ para mim ajudar mandei recados para todos os MC´S nenhum mim ajudou estou pedindo uma ajuda a vocês por favor..

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