Cada vez mais músicos e compositores ‘passam o chapéu’ para conseguir produzir álbuns e shows. É o financiamento coletivo unindo artistas e público.

Delcio Carvalho é daqueles cantores e compositores que toda a nação do samba conhece, mas o grande público talvez não. Mas basta lembrar que “Sonho Meu”, em parceria com Dona Ivone Lara, é uma de suas composições mais conhecidas e ele passa a dispensar apresentações. O carioca Marcelo Guima, violonista, arranjador e também compositor, é seu novo parceiro. Ou pretende ser. E é aqui que você entra nessa história.

Delcio Carvalho e Marcelo Guima
Para gravar o CD “Dois Compassos”, Delcio e Guima querem arrecadar 25 mil reais pelo sistema de crowdfunding, o financiamento coletivo. Faltando 11 dias para atingir essa meta, eles já haviam arrecadado 11.760 reais de “pichulé”, como marotamente brincou Delcio, em vídeo no site Catarse.

Dois Compassos – campanha no catarse.me – Gravação do CD from Arko Produções on Vimeo.

Este é um dos inúmeros bons projetos musicais que pululam nos sites de vaquinha digital. São tantos que FAROFAFÁ decidiu apoiá-los à sua forma, isto é, escrevendo sobre eles nesta nova seção. Inauguramos com uma das pioneiras e mais bem-sucedidas plataformas de crowdfunding do Brasil, o Catarse, mas vamos explorar outros sites do gênero, como Movere, Embolacha, Minimecenas e Começaki.

A tendência, importada dos Estados Unidos de sites como Kickstarter e IndieGoGo, veio para ficar. Não é à toa que bandas veteranas como Velhas Virgens recorreu a esse tipo de ajuda para gravar seu DVD de 25 anos. Conseguiu arrecadar 33.232 reais, 30% a mais do que precisavam. O consagrado Wilson das Neves, compositor e baterista, convidou seu público para ajudá-lo a gravar o CD “Se Me Chamar, Ô Sorte”. Juntou 60.150 reais com 82 fãs.

O nascimento da mais nova dupla de compositores da música popular brasileira só depende de você. Se o projeto vingar, o CD vai incluir sete regravações de Delcio Carvalho, como “Sonho Meu” e “Acreditar”, em arranjos atuais e inovadores, além de seis canções inéditas de Marcelo Guima e duas músicas feitas em parceria entre a dupla. O disco contará com a participação de Arthur Maia (baixo), Marcos Suzano (percussão) e Toninho Ferragutti (acordeon), entre outros músicos convidados.

Cinco músicas já estão prontas. Mas isso significa apenas uma etapa da produção artística. Para o disco ficar pronto, é preciso gravar outras dez canções, mixar todas as 15 faixas e masterizar o disco inteiro. Para que tudo isso vire as 1.000 cópias da prensagem inicial, ainda falta dinheiro.

Quem estiver a fim de colaborar, o que significa ter de desembolsar entre 30 e 3.000 reais (ou mais), terá ainda a sua recompensa particular. A dupla promete antecipar desde cinco faixas até realizar um show acústico aos doadores.

Pode-se olhar o financiamento coletivo de diversas formas. É a vaquinha do século 21. É fazer parte da carreira do artista preferido. É uma mera antecipação de uma compra de um CD ou DVD. É a viabilização de um sonho artístico. “É um estar-se preso por vontade.” É acreditar na economia criativa. É passar o chapéu para amigos e parentes. É, acima de tudo, envolver-se com a cultura brasileira.

Serve como lição o que diz Vinícius Nisi, tecladista de A Banda Mais Bonita da Cidade, dona do hit “Oração”, que teve mais de 10 milhões de acessos no YouTube. O grupo recorreu, com sucesso ao crowdfunding e a partir dali criou uma relação íntima com seu público. “Tivemos diversos contatos de gravadoras na época de “Oração”, mas não chegamos a nos reunir e ouvir propostas de fato. Recusamos sumariamente porque estávamos num turbilhão de acontecimentos e propostas, e as únicas pessoas que poderíamos nos apoiar e confiar eram os amigos, familiares e em nós mesmos. Como já estávamos com a ideia do financiamento coletivo, achamos que a melhor forma seria essa: ir de encontro direto com o público e ver o que acontece.”

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1 COMENTÁRIO

  1. Já que o acesso aos recursos públicos destinados à área é beneplácito de pouquíssimos o jeito é usar a criatividade e partir para a luta via financiamento coletivo, já que o Estado Brasileiro criou a cultura oficialesca e afundou no ostracismo a arte brasileira e a música do povo brasileiro nesse naufrágio. Parabéns a todos aqueles que não estão esperando o chapéu estatal para realizarem seus trabalhos e assim, correndo atrás, mostrar ao povo nossa ampla diversidade musical.

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