O Ensaio, do Festival Goma em Uberlândia, teve início com MC Toi e discotecagem de soul, funk, ragga e rock do DJ Nene. Mas a atração era BNegão e os Seletores de Frequência

Com um show de pouco mais de 40 minutos, Tram-Panumbras conseguiu deixar todos hipnotizados do início ao fim. Com intervenções do Grupo Faz de Conta, a apresentação da banda interagiu com um teatro de bonecos na luz negra e com personagens que dialogavam com as músicas e com o público. Surpreeendente. Foi como Peruzzo, um dos (melhores) fotógrados da noite, definiu o show dos caras.

E pela primeira vez com os Seletores de Frequência na cidade, BNegão colocou no palco um show incrível. Músicas tanto do primeiro quanto do segundo CD fizeram o público dançar num embalo surreal. Quem tinha ido lá como fã gostou, e quem não tinha, saiu pelo menos com a curiosidade de ouvir seus dois discos – “Enxugando Gelo”, de 2003 e “Sintoniza Lá”, recém-lançado. Com um groove todo característico, o show durou cerca de duas horas impecáveis. Depois disso, Bernardo, como é seu nome no RG, conversou comigo sobre o show, os discos lançados e as influências da sua música.


Letícia Alessi: É a sua primeira vez com os Seletores de Frequência aqui em Uberlândia, e o público já é bastante cativo, conhece e curte o som… como foi a recepção hoje?
BNegão: Cara, achei clássico. Sabia que aqui em Uberlândia teria essa parada assim, porque eu sempre venho… Eu toquei aqui três vezes já, no Sexta Reggae e tal.. as três vezes foram do caralho, encheu, a galera cantando tudo e tal. Mas todo mundo sempre perguntava, que eu vinha com SoundSystem, eu, DJ e trompetista, o Pedrão. Aí a galera sempre perguntava “pô, foi do caralho o show, foi maneiro, mas queria ver os Seletores, quando é que cê vem com os Seletores?” – isso há anos, então eu fiquei felizão que finalmente vieram os Seletores agora, enfim, né, uma conjuntura interplanetária aí que fez rolar a parada.

LA: Vira-e-mexe ouve-se falar da qualidade do som de vocês no palco… Como vocês se preparam? É um show mais ensaiado ou mais jam?
B: Ah, tem as duas coisas, sacou? A gente na verdade não ensaia pra caralho, a gente pode ensaiar pra caralho dependendo do ponto de vista, né.. Pô, tem banda que ensaia três vezes por semana, a gente ensaia uma vez por semana. Agora. Há pouco tempo atrás, que a gente fechou um apoio com estúdio e tal, mas normalmente a gente ensaiava uma vez antes dos shows… Era bem “descaralhado”.
Aí a gente coloca essa pressão agora pra ficar tranquilo… Eu prefiro assim, quando a gente ensaia uma vez por semana, que todo mundo aqui é mais pra punk do que pra músico, sacou? Músico, músico. A gente é mais uns punks metidos à besta, enfim, os sons que a gente tá afim de fazer é muito mais na raça do que na técnica, então é importante a gente dar uma ensaiadinha pra lembrar as paradas e também pra poder improvisar tranquilo… Que a gente faz uma base que conseguimos improvisar e enfim, quando a gente pega, tipo hoje, que o som do palco não tava tão legal assim, enfim. Aí a gente fica mais à vontade pra tocar sem errar, sacou? A gente vem aí tocar na guerra e na paz.

L: Quais foram as principais diferenças que vocês sentiram ao produzir “Enxugando Gelo” e “Sintoniza Lá”? “Sintoniza Lá” demorou nove anos pra sair, né?
B: Oito anos e seis meses (risos). Cara,na verdade é o seguinte: o primeiro disco,ele foi feito assim, a gente foi fazendo com uma relativa calma e tal… E fomos fazendo as músicas pra depois ver como as músicas iam ficar ao vivo. E esse segundo disco, eu falei: cara,só vou botar música que dê certo em show. Que funcione no show. É um disco mais como se fosse pro “ao vivo”, sacou? Diferente do primeiro, que tem coisas que funcionam ao vivo como coisas que não funcionam ao vivo, várias partes eletrônicas e tal, e nesse disco (novo) a gente botou só a banda tocando, sem nada eletrônico. E foi isso,essa é a grande diferença. Na verdade, ele demorou um tempo pra sair porque, se for parar pra pensar a gente tava fazendo essa conta: se pegar pra ver o tempo todo que demoramos pra fazer o disco, foram 3 meses. De estúdio. No total – só que aí foi assim: duas semanas, oito meses depois, uma semana… Dois anos depois, três semanas, aí a gente pensava “agora vamo lançar!” Aí não lançava o disco, daí um ano depois foram mais duas músicas e tal, então tipo assim, o disco da gente tem um apelido assim: “Brazilian Democracy”, em alusão ao “Chinese Democracy” do Guns… Os caras do Guns ficaram fazendo, desfazendo o disco, trabalhando 12 anos no disco. A gente trabalhou três meses só, só que espaçados… Em espasmos.

L: Quais têm sido as principais influências de vocês nessa fase do “Sintoniza Lá”?
B: A parada na verdade é assim: a gente costuma falar que a gente é uma banda de música negra universal, sacou? Quando eu falo do som standart dos nossos ancestrais, é isso aí, sacou? A parada saiu lá da África, desmembrou no mundo inteiro e tal, com todas as suas diferenças e tal, desde o samba até o funk, até o hardcore, enfim. O hardcore não pode ser esquecido, os grandes inventores do hardcore são os Bad Brains, que é uma banda de quatro criolos jamaicanos e tal, e os caras tão na gênese do hardcore, então o hardcore também é black music. Então é isso, a gente tem bastante influência de música africana, com a entrada do nosso baterista, do Robson, que veio substituindo o Pedrinho… O Pedrinho foi tocar com o Lobão, o Robson tocava com o Lobão e veio tocar com a gente.. E botou bastante influência de música africana e tal, que tem nesse disco bastante afrobeat, afromusic e tal.

* Letícia Alessi é jornalista e pertence ao Paralelo Mundi, um coletivo de comunicação de Goiânia. Este texto foi originalmente publicado no site do Festival Goma

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